As atenções estão voltadas para o Estado do Rio Grande do Sul, que se transformou diante de uma catástrofe climática sem precedentes. As fortes chuvas que iniciaram no final de abril e seguiram no início de maio afetaram diretamente e de forma inédita 463 dos 497 municípios do Estado, entre eles a Capital. A tragédia histórica no RS é considerada uma das maiores do Brasil. Bem por isso virou principal assunto do país, com grande repercussão nas mídias sociais, na imprensa e também entre os influenciadores.
Se por um lado a grande visibilidade também nos inundou de desinformação, fake news, e sensacionalismo, por outro, vemos muita solidariedade e pessoas ajudando como podem, doando produtos, dinheiro, seu tempo e sua expertise. Estes dois lados também estão presentes ao observarmos os posicionamentos e divulgações protagonizadas pelos influenciadores digitais. Enquanto uns aproveitam para buscar likes e engajamento com informações de fontes duvidosas, outros encabeçam grandes campanhas de arrecadação e colocam a mão na massa para ajudar as vítimas.
Períodos como este, de grande emergência e comoção social, são também uma importante oportunidade para se observar a postura de quem admiramos e para quem entregamos nosso tempo e nossa atenção. Como o influencer que você segue está se posicionando diante desta tragédia?
Em um primeiro momento, vemos que grande parte dos criadores de conteúdo estão utilizando sua influência para ajudar, solicitando doações e compartilhando campanhas solidárias. E isso é muito benéfico! Porém, com olhar mais crítico e entendendo como funcionam as redes sociais e o que alimenta o algoritmo destas plataformas, podemos identificar alguns creators se expondo ao risco sem necessidade, expondo outras pessoas com irresponsabilidade, aflorando debates com opiniões sem embasamento e disseminando notícias inverídicas.
Deixando as opiniões destes influencers à parte, o maior problema está na disseminação de notícias sem checagem correta, falsas, incompletas ou exageradas; a propagação de fotos e vídeos que muitas vezes foram manipulados por inteligência artificial, ou são de outros lugares do mundo e de outras datas; bem como recorte de trechos de declarações sem sua devida contextualização. Além disso, é de estranhar uma necessidade constante de alguns em se colocarem como protagonistas e heróis, compartilhando sua imagem de salvador em meio à exposição de pessoas em situação de vulnerabilidade, sem nem mesmo conversar com elas e muito menos obter o consentimento das mesmas para aparecerem em seus Stories e Reels.
Relembro: são influenciadores que também podem estar doando ou arrecadando recursos para ajudar as vítimas e esta solidariedade é válida e necessária sempre. O fato é que isso não os isenta da responsabilidade perante o que divulgam. E não lhes dá carta branca para se posicionarem como aproveitadores da situação, por vezes inflamando seu público de forma equivocada, na busca pelo tão almejado engajamento, visibilidade e alcance.
No curto prazo não devemos esperar que as big techs mudem seu funcionamento para bloquear compartilhamentos indevidos, também não tenhamos esperanças de que estes influencers vão colocar a mão na consciência e repensar atitudes. O que nos resta é educar os usuários para que treinem seu olhar crítico, e as marcas que reforcem sua pesquisa e curadoria de influenciadores. Seja para seguir ou contratar, opte por creators que influenciam com a verdade, com consciência, bom senso, respeito e educação aos demais.
Agora, algumas dicas de como se posicionar e como compartilhar informações relacionadas à calamidade do RS em suas redes sociais:
- Se você filmou ou fotografou alguma cena forte e que pode causar desconforto, primeiro repense se mostrar ela na íntegra é realmente necessário para transmitir sua mensagem. Se precisar compartilhar, indique no início do vídeo ou na legenda de que se trata de imagem com conteúdo forte e que poderá acionar gatilhos emocionais indesejados;
- Se você está fazendo uma boa ação, fique à vontade para contar o que está fazendo com o objetivo de inspirar outras pessoas. Não apenas se coloque como o centro da mensagem, mas mostre utilidade ao indicar o que estas pessoas lhe assistindo também podem fazer, seja informando um pix, um link de cadastro de voluntários, etc;
- Se você está em um abrigo ou trabalhando nos resgates, lidando diretamente com as vítimas da tragédia, não grave as pessoas sem consentimento, aviso prévio ou autorização (no caso de crianças, peça autorização aos pais). Outra alternativa é borrar o rosto das pessoas na imagem ou usar outro recurso que não as exponha sem que elas tenham conhecimento. Muitas vezes mostrar um detalhe do trabalho sendo feito no local já ajuda muito em uma narrativa, sem precisar mostrar as vítimas em si;
- Entenda que cada um ajuda como pode. Quem não está postando sobre isso, também provavelmente está ajudando. Seja doando em dinheiro, produtos, seja hospedando parentes, seja voluntariando nos diversos abrigos ou pontos de coletas de doações… Portanto, evite criticar os outros, apenas faça a sua parte;
- Ao se deparar com uma notícia muito sensacionalista, duvidosa ou alarmante, se certifique qual veículo de comunicação publicou, leia a matéria inteira (e não somente a manchete) e compreenda o embasamento utilizado. Somente compartilhe após checar se a informação é oficial e crível. Se alguém falou pra alguém que mandou no whatsapp, busque se a informação aparece em algum site confiável de notícias, senão, não compartilhe;
- Se por acaso compartilhou algo e depois soube que era falso, compartilhe isso com os demais, de preferência dissemine com a mesma intensidade a informação correta!
Quer ajudar de outras formas? Reunimos neste post alguns dos principais links de utilidade pública nesse momento tão desolador e espero ajudar tanto quem está no RS quanto pessoas de outros estados e países que queiram contribuir com doações e divulgações.