Dedicado a pesquisar os efeitos do uso de células-tronco e de terapia gênica, para tratar doenças cardíacas refratárias há mais de uma década, o Grupo de Pesquisa em Cardiologia Molecular e Celular, ligado à Fundação Universitária de Cardiologia e à Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), teve seu trabalho reconhecido, na última semana, com um artigo publicado no periódico Gene Therapy, do Grupo Nature, o mais prestigiado do mundo na área de ciências.
A base para a pesquisa é o Serviço de Cirurgia Cardíaca do Instituto de Cardiologia, em associação com o Laboratório de Cardiologia Molecular e Celular do mesmo instituto, montado entre 2002 e 2004, pelo cirurgião cardíaco Renato Kalil, professor titular de Clínica Cirúrgica da UFCSPA.
Iniciadas em 2003, as pesquisas desenvolvidas em Porto Alegre já deram importantes contribuições para que se compreenda o mecanismo de ação das células-tronco e também os efeitos da terapia gênica na insuficiência cardíaca e nos casos de angina refratária aos tratamentos convencionais, ou seja, aqueles que não respondem mais aos medicamentos e intervenções usuais. O grupo já demonstrou, por exemplo, que o efeito da injeção de células-tronco no coração se propaga por todo o órgão, não ficando restrito ao local da aplicação. Está claro também, que as propriedades das células-tronco são afetadas pela idade e pelos remédios usados no tratamento cardiológico do paciente.
A pesquisa revelou ainda, que o efeito da injeção de células-tronco é insuficiente para ter significado clínico ou melhora duradoura dos sintomas – no passado, as células-tronco eram vistas com entusiasmo pela comunidade científica por terem, em teoria, a capacidade de regenerar qualquer tecido, o que acabou não se comprovando completamente. O estudo demonstrou que pode-se melhorar a circulação de sangue em áreas mal vascularizadas com o uso da terapia gênica, mas que esse efeito é passageiro e perdura por apenas alguns meses.
Um dos coordenadores da pesquisa, Kalil explica que modificações nos genes estão sendo estudadas para que os vasos gerados a partir deles sejam mais resistentes e promovam uma reabilitação mais duradoura no paciente. “Para resultados conclusivos, precisamos de acompanhamento de longo prazo. A terapia gênica pode revolucionar o tratamento desse tipo de patologia, por isso a publicação do nosso estudo é tão relevante. É fundamental que essa pesquisa tenha continuidade”, completa.
Atual coordenadora do Laboratório de Cardiologia Molecular e Celular, a bióloga e geneticista Nance Nardi, também faz parte do grupo de pesquisa e comemora as descobertas. Segundo ela, mesmo não tendo dado a resposta esperada para doenças complexas, como as cardíacas, a pesquisa com células-tronco revelou possibilidades promissoras, para o tratamento de muitos males, além de ter aberto novas oportunidades de investigação na área. “Queremos que pesquisadores de várias áreas conheçam nossa pesquisa. Esse debate é fundamental, para que os estudos avancem e beneficiem pacientes”, completa Nance.
O estudo do Grupo de Pesquisa em Cardiologia Molecular e Celular contou, desde o começo, com financiamento de órgãos de fomento à investigação científica como FAPERGS, FINEP, CNPq, CAPES e Secretaria de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul.
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Crédito: Gilson Souza.